sábado, 10 de outubro de 2009

Mosteiro de Santar

O MOSTEIRO DE SANTAR

de

SANTA MARIA DA PIEDADE

Quase totalmente desconhecida a sua existência das gentes de Santar, pois que não existe o mais leve vestígio da sua existência, nem mesmo em lenda.

A descrição da sua origem deve-se a Frei Adriano Casimiro, monge da ordem de S. Jerónimo, do Mosteiro de S. Marcos, subúrbios de Coimbra (Tentúgal), que em um dos seus manuscritos dele se ocupa.

A revelação deste achado histórico foi divulgado pelo grande historiador Dr. Joaquim Martins Teixeira de Carvalho, que na sua obra de investigação histórica do Convento de S. Marcos, nos fala deste achado desconhecido de todos nós, mas que demonstra bem do passado histórico que teve Santar.

Diogo Soares de Albergaria, filho de Fernão Gonçalves e de D. Catarina de Albergaria, foi fidalgo muito ilustre nos reinados dos Reis D. João I, D. Duarte e D. Afonso V. Tal era a estima que tinha na coroa do Reino, que D. Afonso V o elegeu para Aio de seu filho o Príncipe D. João, que depois foi o Rei D. João II.

Como Diogo Soares de Albergaria havia casado com D. Beatriz de Vilhena, não tivessem filhos, foi seu desejo e vontade, empregarem os seus bens, na construção de um Mosteiro, em Terras de Senhorim, mais propriamente em Santar, por serem muito devotos a Deus e a S. Jerónimo.

É desta vontade que nasce o Mosteiro de Santar, em honra de Santa Maria da Piedade, que iria ser dirigido pelos frades da Ordem de S. Jerónimo, como revela o Dr. Joaquim Martins, na tradução que fez dos manuscritos que encontrou, feitos por Frei Adriano Casimiro.

Fala-nos ainda o ilustre historiador, das peripécias que Diogo Soares de Albergaria teve de enfrentar para conseguir a obtenção da autorização da construção deste Mosteiro.

Porque:

1ª) As terras que possuía em Terras de Senhorim eram da coroa e dadas aos seus antepassados, com a condição de não poderem ser alienadas;

2ª) Teve que pedir autorização ao Papa;

3ª) Teve que obter autorização do Bispo de Viseu, o que conseguiu em 21 de Dezembro de 1471.

Conseguiu Diogo Soares de Albergaria obter todas as autorizações, embora tivesse que fazer contrato de troca de terras que tinha em outros lugares, com D. Afonso V.

Assim, dada a idade avançada de Diogo Soares e de sua mulher D. Beatriz, foi iniciada a construção do Mosteiro, tendo-se dobrado o pessoal, para que este ficasse pronto antes da sua morte, pois nele desejava ser sepultado.

Fez Diogo Soares de Albergaria testamento dos seus bens ao dito Mosteiro em 1471.

Mas, Diogo Soares de Albergaria morre nos princípios de 1473 e pouco tempo depois (ainda no mesmo ano) morre sua mulher, D. Beatriz de Vilhena, tendo os dois ficado enterrados na Capela do dito Mosteiro.

D. Beatriz de Vilhena, persuadida pela família, altera o testamento, no qual institui sua testamenteira e herdeira de alguns bens, sua segunda irmã D. Maria de Vilhena, casada com Fernão Teles de Menezes, embora com condição de continuarem a obra do dito Mosteiro.

Egoístas e soberbos, os familiares não concordam com o testamento e movem várias acções para que seja feita anulação deste.

Aqui fica desfeito o velho ditado que diz: “PALAVRA DE REI NÃO VOLTA ATRAZ”. D. Afonso V, em 4 de Agosto de 1480, da corte de Vila Viçosa, fez anular o testamento, chamando novamente à coroa as Terras de Senhorim, dadas a Fernão Gonçalves, demonstrando aqui este rei não ter dignidade de palavra e desrespeitando ainda a troca que tinha feito com Diogo Soares de Albergaria.

Mas, como palavra de rei era palavra de rei, embora troca-tintas, D. Afonso V põe termo ao que já era um Mosteiro em Terras de Santar, como se vai ver a seguir.

Considerando nós que o dito Mosteiro e Casa de S. Marcos é pobre e não tem nada para se poderem sustentar os Frades que ali estão; e como por sua regra não devem, nem podem, pedir esmola como os de S. Francisco, S. Domingos e outros, fazemos esmola, deste dia para sempre, ao Mosteiro de S. Marcos do padroado da Igreja de Santar…

Os corpos de Diogo Doares de Albergaria e de D. Beatriz de Vilhena foram assim transportados para o Mosteiro de S. Marcos, onde se lhe deu sepultura honorífica, na Casa do Capitulo.

Na Casa de Capitulo, concordaram os monges de S. Marcos levantar um altar com a imagem de N. Senhora da Piedade, de pedra, que é possível que vindo de Santar com os corpos dos fundadores. Esta imagem não existe já. No altar de N. Senhora de Piedade está a data de 1564, o que leva a crer que foi nesse ano que ali se deu sepultura honorífica aos instituidores na Casa do Capitulo.

A lousa sepulcral que estava ainda no seu lugar quando António Francisco Barata visitou o Mosteiro, foi procurada por Joaquim de Vasconcelos e encontrada mutilada por Braamcamp Freire, que completou a leitura pelo texto conhecido de Frei Adriano.

Como se pode ver, D. Afonso V, foi um Rei sem palavra nem dignidade, bem se lhe podendo dar cognome de:

“Troca-tintas”

In, manuscrito de Adrião Polónio de Carvalho

1 comentário:

  1. Desconhecia este facto e estou muito grata pela V. pesquisa e partilha de informação.Bem haja.
    Há que divulgar este tipo de acontecimentos históricos que só contribuem para engradecer a Vila e alma das suas gentes.

    Cumprimentos a todos e continuem com o bom trabalho.

    Não posso deixar de manifestar mais uma vez a minha gratidão ao Adrião e sentir e lamentar mais uma vez o quanto foi ignorada a sua prestação civica em Santar.

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